terça-feira, 19 de maio de 2009

Turbilhão...

Turbilhão… Turbilhão de sentimentos, de opiniões, de desejos.
A indecisão perante a realidade. Lutar ou permitir? Fechar os olhos ou enfrentar?
Depois foi o teu envelope, deixado voluntariamente em cima da cómoda da entrada. O envelope que eu não abri com medo. Medo do que revelará, das palavras que certamente estarão contidas naquele pedaço de fita, envelope que só irei abrir junto de quem me sinta seguro. Porque é que deixaste aqui este envelope? Estavas suficientemente ausente da minha vida, porque apareceste agora??
Depois vem a tua fita, outra fita. Aquela que li ontem e já tenho saudades (e a qual certamente vou ler quando acabar este texto…). Palavras que escorrem em tom prateado e que me emocionaram, que me fizeram acreditar na amizade, que me fizeram acreditar que houve pessoas que ficaram marcadas por mim, que sentirão a minha falta. Saudade. Saudade que aperta, já, e que as tuas palavras fizeram apertar ainda mais.
Apetecia-me dar te um abraço forte, bem forte… aquele ficou muito aquém… um abraço de amigos, amigos ao nosso jeito, como tu próprio referes. Porque eu não tenho vergonha de dizer que te adoro (porque os amigos adoram-se!), que és uma pessoa que eu adoraria ter conhecido. E conheci!
Nunca esperei ler nada teu assim, tão profundo. Porque foste sempre muito poupado nas palavras. De vez em quando lá deixavas escapar uma mensagem mais aproximada daquilo que eu queria ouvir de ti. Porque as palavras são muito importantes para mim!, assim como os abraços! Mas a fita surpreendeu-me, e muito!
Vou ter muitas saudades tuas, acredita! Mas a vida não separa os amigos! Caso contrário, eu não o vou permitir!

Entretanto o envelope jaz, ali. Amanhã talvez tenha coragem de o abrir, junto de quem me sinto seguro.

Quanto ao turbilhão de emoções, ele já não supera o cansaço… e quanto à indecisão… logo se vê como corre amanhã o dia…

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Ausência prolongada...

Foi grande, esta ausência. Prolongadamente longa… os afazeres académicos, distribuídos entre a realização de trabalhos, trabalhinhos e trabalhecos, e os preparativos para a Queima, entre a idealização e concepção de fitas, marcação de jantares e demais ocasiões de celebração festiva, não me têm permitido passar por aqui para colocar mais um post it sentimentalista.
De qualquer maneira, a minha vida não tem tido, deste então, nada assim de tão relevante que merecesse ser escarrapachado neste espaço. Contudo, achei que esta ausência já era demasiadamente prolongada, e antes que a ASAE da blogoesfera me encerrasse o espaço comercial por falta de novidades e actualizações, resolvi esmiuçar qualquer coisita aqui para o bloco virtual.
A um passo do fim, a minha cabeça tem andado demasiadamente ocupada para pensar que estou, precisamente, a um passo do fim. Nem as fitas, primorosamente concebidas e saudosamente escritas, me têm sensibilizado para este facto. No entanto, tenho a admitir que sinto a alma carregada e os olhos pesados. Sinto que necessito urgentemente de descarregar o saco lacrimal, que ameaça rebentar pelas costuras. Por favor: alguma alma caridosa tem a bondade (de me auxiliar… ai não, não é isto que eu queria dizer aqui…) de me fazer um power point todo giro, e a puxar ao sentimento, para eu poder verter uns quantos decilitros? Muito agradecido pela gentileza…
Enquanto aguardo por esse momento, aqui permaneço eu, esperando dias melhores, dias de festejo, que nunca mais chegam, que nunca mais me tiram este peso de cima, me esvaziam a alma e folgam as costas. Foram quatro anos de reuniões e afazeres, de marcações e idealizações, de projectos (uns frustrados, mas uma grande parte concebidos) e de tentativas de união (essas sim, frustradas, na totalidade), de tudo e mais alguma coisa que servisse para por História no mapa dos cursos da UE e afastá-la dos comentários (bastante tristes, diga-se de passagem…) “ai também há História na Universidade??”, ou desperdícios de palavras, parolos, do género.
Confesso que neste momento me sinto cansado. É muito difícil nadar contra a corrente e tentar avançar contra o vento… no entanto, fez-se, fiz, o que foi possível, e me foi possível.
Um dia destes hei-de vir para aqui desabafar este tipo de recordações. Por enquanto fico por aqui, só para que a ASAE da blogosfera não me encerre o espaço comercial por falta de novidades e actualizações.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Verbos reflexos

Sinto-me cansado, extenuado, exausto.
Custa-me respirar, custa-me pensar.
O olhar pesado denuncia horas de trabalho intensivo, seguido, continuado.
Apetece-me parar. Mas não posso. Apetece-me descansar. Mas não posso. E sinto-me cada vez mais cansado.
Pergunto-me se se trata de uma desculpa, uma desculpa para não enfrentares algo? E eu respondo: em parte sim.
Farto-me de repetir a mesma história, os mesmos argumentos, os mesmos episódios. A resposta parece ser clara e evidente. Parece. Mas ao mesmo tempo parece tão inatingível.
Não fujas! Não fujas! Não fujas! (repetirei quantas vezes forem necessárias até que se torne uma verdade absoluta e uma decisão tomada!)

O meu olhar cansado e o meu sorriso abatido não deveriam ser tão denunciadores!

(peço desculpa por ter tornado este pequeno discurso tão só meu… mas há desabafos que necessitam de ser exorcizados, de qualquer forma)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Imagens

“Fiquei sem nada. Até fiquei sem os meus dentes”…

Aqui ando eu, na morada oficial, de roda das arrumações pós-férias. Mala daqui, mochila dali… dobra, envolve, guarda… enfim, nada de extraordinário e de paranormal na vida de um qualquer nómada dos tempos modernos.
No meu quarto, rodeado dos meus livros, das minhas coisas (mais ou menos importantes, mas no fundo, recordações), dos meus bocadinhos de pessoa que sou, verifico-me que os meus pensamentos estão completamente em piloto automático. Vagueiam, pesquisam, lembram, assomam… e mais uma vez, desde há alguns dias para cá, fixo-me e fixam-se naqueles rostos, naquelas expressões, naquelas emoções. Rostos de quem apenas ficou com a vida, expressões de pesar e de desamparo, emoções de quem precisa de força para ter esperança.
A esperança é a ultima a morrer, diz-se… mas onde se encontra a esperança quando se perdeu tudo? Aquela velhota, agarrada a uma qualquer autoridade ou socorrista, gritava desesperadamente e dizia: “Fiquei sem nada. Até fiquei sem os meus dentes”.
Debaixo daqueles telhados ficaram vidas. Debaixo daquelas paredes, recordações. No meio dos amontoados de entulho, a dor e o sofrimento estampados de quem, em segundos, ficou sem nada… sem um livro, sem uma fotografia, sem um par de sapatos, sem um filho, sem um irmão, sem um pai…
Onde se vai buscar a força para sobreviver? Onde se vai buscar a coragem para continuar?

No meio de uma cidade feita de ruínas e de rostos empoeirados feitos de pesar, uma velhinha gritava, porque havia ficado sem nada… e há imagens que não conseguimos esquecer…

domingo, 12 de abril de 2009

Carnaval na rua, Páscoa no café...

Sinceramente, a Páscoa não é aquele momento do ano que, enfim, mais significado tenha para mim. Tradicionalmente, época de recolhimento, reflexão e contrição, mas também de saudosas reuniões familiares, para mim não há nada disto, o que se justifica tão simplesmente por dois factos: não sou um religioso fervoroso e não tenho família para andar a reunir em grandes almoços feitos do desfiar das (mesmas e recorrentes) recordações genealógicas.
Os dias aparentemente solarengos e amenos escondiam noites profundamente gélidas e invernais, que desencorajavam qualquer saída prolongada e desagasalhada. No entanto, foi precisamente durante esses dias aparentemente solarengos e amenos e durante as noites profundamente gélidas e invernais que eu aproveitei para vos ver, para vos sentir, para vos ouvir e para vos radiografar visualmente, guardando os vossos contornos enquanto o tempo, a distância e as nossas vidas não permitam um novo reencontro.
Tinha tantas saudades vossas, tantas… São, no fundo, as recordações presentes dum passado não muito longínquo, mas cada vez mais longínquo.
Falamos sobre tudo porque não temos segredos, não temos vergonhas, não temos espaços nossos porque tudo é de todos. Antecipamos as opiniões, completamos as frases, adivinhamos os olhares e interpretamos os pensamentos simplesmente porque nos conhecemos uns aos outros como a nós próprios. E isso é tão bonito… e encontra-se tão pouco ao longo da vida…
As recordações voam, as opiniões pululam, os sonhos emergem e suspiram-se os desaires. Mas fazemos tudo isto porque nós somos nós, e não permitimos a admissão de mais ninguém!
Por agora, as despedidas! Cada um vai regressar ao seu meio, à sua outra vida, a vida que se faz lá, nos sítios de lá, com as pessoas de lá, nos horários de lá e cos quotidianos de lá.

Temos crescido tanto, não temos? Tenho notado tanto isso…

Ainda agora nos despedimos, e eu já tenho saudades…

quarta-feira, 8 de abril de 2009

1 carneiro, 2 carneiros, 3 carneiros...

Esticado, tapado e aconchegado no meu leito nocturno, tento, sem sucesso algum, adormecer.
Dou voltas e voltas, e paraliso-me. Aumento-me e encolho-me. Alargo-me e reduzo-me. Braços e penas encolhidas de forma fetal, que rapidamente tactearão os novos espaços gélidos da cama, cansados de estarem comprimidos desnecessariamente.
Fecho os olhos, bem cerrados, e penso em mil e uma coisas para ver se o cérebro hiberna até amanha de manhã, hora em que serei obrigado a acordar (para mal dos meus pecados…), recordando amargamente: “porque é que não te deixaste dormir mais cedo, caramba?”. Essas mil e uma coisas deveriam servir, à partida, para me deixar dormir. Mas não!... só servem para me manter acordadíssimo cerebral, física, psicológica e mais não sei quantos “mentes” (vulgo advérbios, de qualquer coisa, pressuponho eu…) por mais uns quantos minutos, que prometem ser longos… Ora então muitos obrigadinhos!!, por nada, claro está!
Entretanto passo para outro plano estratégico, que já não sei se é o B, o M, o Z ou o F ao quadrado vezes 5, sobre 7, raiz quadrada, a dividir pelo PI, noves fora… … … (alucinações noctívagas, portanto). Como estava a referir, passo para o plano X (não por ser letra do alfabeto, mas sim por ser uma incógnita, ou lá como é que se diz na distante matemática) e preparo-me para contar carneiros… pois dos carneiros passo para as ovelhas, e das ovelhas para as cabras, e das cabras para o resto do estábulo, e depois para a bicharada inteira… e nem que viessem 30 zoológicos inteiros, mais os tratadores, as meninas da bilheteira e as avozinhas com os netinhos e as 300 excursões que querem ver a aldeia dos macacos, me chegava o raio do sono!
Ora c’os diabos, hã? Logo para o que me havia de dar hoje…
Bem, como tudo, esta insónia mal disfarçada tem uma razão: é o resultado de algumas noites a seguir fiel e religiosamente tudo o que são séries criminais; porque os exames das balísticas, dos odores, das colorações, do “quem”, do “onde” e do “porque” dão tudo o seu trabalho e porque às vezes os malandros dos assassinos, dos violadores e da demais tropa “fandanga” não se deixam apanhar, e mais não sei quê. Já para não falar quando não se sabe quem morreu, porque o corpo ficou em tal estado (tadinho… morre tanta gente para se fazerem estas séries… txi… nem sei como é que ainda há voluntários para estas coisas…) que nem dá para identificar nada! Mas eles, espertos como são, e ajudados, claro está, por aquelas maquinetas todas “X-P-T-O”, lá conseguem saber quem foi a alminha sacrificada desta vez.
Entretanto, permaneço no mesmo sítio, tal e qual… eu cá ouço a noite, eu cá ouço o tic-tac do relógio digital, eu cá ouço tudo e mais alguma coisa… menos o sono a chegar a passo de cavalo. Estou bem tramado hoje… Eu bem olho, no meio da escuridão, para o que me é possível vislumbrar, mas a espertina é mais que muita (e a parvoeira também, como se tem comprovado aqui!).
Bem se calhar o que tenho a fazer é virar-me para o outro lado e começar a contar carneiradas outra vez. Ora cá vai disto: 1 carneiro, … … 179 carneiros, … … 3 644 carneiros, … … 1 650 348 carneiros, … …

domingo, 5 de abril de 2009

Dicotomias e, às vezes, apetites...

Apetece-me, e não me apetece…
Às vezes, apetece-me fugir, desligar telemóveis, permanecer incontactável horas a fio, desaparecer do mapa, do planeta, da galáxia. Começar tudo do inicio, sozinho, afastado.
Às vezes apetece-me ir. Se vou, apetecia-me ter ficado. Ou até já lá estar.
Interesso-me e não me interesso.
Faz-me falta. Ou então nem me lembro.
Queria falar ou nem quero ouvir.
Saio de casa, ou enrosco-me em apatia.
Tomara que me ligues, ou nem te lembres que eu existo.
Pensamentos reprimidos que vou soltando em bocejos, em meias palavras, expressas entre dentes, como se medo tivesse que elas fossem escutadas.
Desejoso que me perguntes o que se passa ou espero que nem te ocorra perguntar nada.
Às vezes sinto-me assim, dividido entre dicotomias parvas, irracionais. Tendo procurar uma resposta, mas não a encontro. Tento procurar um motivo, mas ele não está lá. Tento procurar uma solução… encontro-a… mas como a tomo?
Sinto-me cansado, quase a roçar a exaustão. Mas isso é só as vezes…
Entre o motivado e o desmotivado. Entre o divertido e o apático. Entre o activo e o inerte. Entre o sociável e o eremita.
Se estou parado, acho que devia iniciar. Se inicio, já me desmotivei. E agora? Sigo para a direita ou para e esquerda?
Como é que exorcizo estes fantasmas? O que vale é que só me aparecem muito de vez em quando, entre um dia cansativo e uma noite mal dormida.
Sinto que tenho tanta gente… e ao mesmo tempo sinto que não tenho ninguém. Que sou um máximo e que sou (isso, diz o que estás a pensar… Para que reprimir?) uma grandessíssima merda. Sou giro e sou horrível. Sou tudo e talvez não seja nada.
Certezas ou dúvidas?
Verdades ou tontarias?


Durante algum tempo, ainda me questionei se devia, ou não, escrever este texto…

terça-feira, 24 de março de 2009

Fast Food

Protegidos pela noite e enroscados no meio duma aragem (demasiado) fresca que se fazia sentir, lá estávamos nós, em plena quadratura, entregues aos sabores imediatos proporcionados pela estandardizada comida rápida.
Serão agradável, este!
Lá te convencemos, não foi?
A noite encarregou-se de deixar cada uma nas suas casas, nas quais cada um entrou com pezinhos de lã, para não incomodar os demais, e se entregou aos ansiados e aconchegantes leitos.
Eu optei por me entregar ao mundo das palavras e dos sentidos, não que a inspiração fosse muita, porque não era, mas porque me apeteceu vivamente guardar este simples momento no meu bloco de memórias. O momento em que, protegidos pela noite e enroscados no meio duma aragem (demasiado) fresca, quatro amigos se entregavam aos sabores imediatos proporcionados pela estandardizada comida rápida.

domingo, 15 de março de 2009

Varanda dominical, ou a apologia dos textos não-lamechas

O serão foi avançando, a lua subindo, enevoada, no horizonte celeste e a noite arrefecendo e exigindo uma fina blusa, sobreposta às camisas coloridas de mangas arregaçadas. As conversas, essas, foram fluindo e confluindo.
Por vezes abstraia-me e procurava beber daquele magnífico cenário que se desenrola em frente à varanda dominicana de domingo.
Pela colina, as casas dispõem-se de modo ondulante, sinuoso, e os grandes edifícios demarcam-se pela sua volumetria e intensidade luminosa, contrastante com o casario sombrio e escurecido.
Os pináculos eclesiásticos, as janelas anónimas e as ruas tortuosas, todas se definem e se confundem ao mesmo tempo, levando o espectador a percorrer, com o olhar, esta enorme tela disposta majestosa e estaticamente diante dos nossos olhos.
É um regalo para a vista ver Évora desta varanda, nestas noites serenas e tranquilas que convidam à conversa, ao passeio, ao sossego. Cenário que nos inebria e envolve, apesar da cafeína disfarçada com natas, tão habitual neste espaço de religioso encontro.

(especialmente para ti, que me acusas repetidamente de apenas publicar textos apelidados de “lamechas”)

sábado, 14 de março de 2009

Quispos...

A Primavera aproxima-se rapidamente! Os dias longamente ensolarados convidam ao passeio, à esplanada, às camisas coloridas de mangas arregaçadas.
Saem os óculos de sol e os sorrisos de quem já, há muito, ansiava pelo bom tempo, que nos aquece, que nos reconforta, que nos alegra e distrai.
Junto ao jardim, as enraizadas glicínias lançam já o seu característico aroma, enquanto se contorcem pelo meio do secular gradeamento. As suas flores ainda não desabrocharam, mas o colorido cheiro, esse sim, já se faz sentir.
O sol, fortemente luminoso, projecta-se de encontro às paredes brancas da cidade, iluminando-as e secando-as da humidade invernal que as corroeu.
Chegado a casa, à minha casa, descarrego o carro, e tiro as malas, as mochilas, os sacos. Desta vez também vieram os quispos porque, afinal de contas, vão deixar de ser necessários. Mas é ai que o meu corpo sofre um baque, uma paragem e a mente inicialmente paralisa, para depois deixar que os pensamentos fluam com mais racionalidade. É aí que eu penso: “esta é a última vez que eu trago os quispos de Évora…”.
A princípio, poderíamos até ser contagiados por uma gargalhada escondida, dissimulada. Contudo, a situação é bem mais constrangedora do que se pode pensar inicialmente pois até a simples atitude de trazer os grossos quispos, findo o Inverno, me faz cair na pesada realidade, como se eu não me visse obrigado a lidar com ela, todos e todos os dias...

terça-feira, 10 de março de 2009

Falsa abstracção

Tento esquecer-me, tento abstrair-me, ignorar a contagem decrescente acelerada, demasiadamente acelerada. Mas é aí que surge a mensagem, a palavra, a conversa, o rosto, o sorriso, a memória e a saudade.
Começa a fase das decisões. Antecipa-se a fase das despedidas, que não são verbalizadas, apenas visualizadas entre uma névoa de comoção e anseio.
Vejo-vos… Revejo-vos… estão todos aqui, todos os dias.
Cada flash captou-nos e imortalizaram os sorrisos, os espaços, os momentos. E é por isso que aqui vos tenho, para vos ver dia após dia, todos os dias.
Quem me dera que tudo tivesse sido mais cor-de-rosa, mais perfeito, (ainda) mais feliz. Quem me dera que as despedidas não custassem tanto, mas vão custar, não vão?
Têm elogiado o blog, o meu blog, onde descargo todas estas anotações, repositório de mim e de nós. Arquivo de emoções, gaveta de recordações, de fotografias textuais, da dualidade do tudo e do nada, do implícito e do explícito, porque há contornos que nem as palavras conseguem exprimir.
Às vezes pergunto-me do que vou ter mais saudades… Obviamente que não encontro resposta, porque é notoriamente mais difícil encontrar uma resposta que formularmos uma pergunta.
Uma lagrimazinha assoma aos olhos, de vez em quando, a garganta treme e a voz falha. Quem me dera poder dizer tudo o que queria antes do meu coração desobedecer às ordens da mente e da razão. Como tu dizes, talvez arranjemos um part-time num qualquer anúncio de uma qualquer marca de lenços e demais derivados…

Tento esquecer-me, tento abstrair-me, mas nem sempre sou capaz…

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Pastéis de Nata

Fez-me muita impressão aquilo que disseste ontem à noite, aí nesse sofá… Talvez eu próprio ainda não tivesse pensado nisso, pelo menos nesses termos…
Não sei o que mais me abalou, se o que disseste, se o facto de teres sido tu a dizê-lo. Tu, que sempre pareceste tão seguro e imune às separações. Não és desumano, nem frio, nem desligado. Muito pelo contrário. Mas a segurança, com que pensas e falas, faziam supor que as despedidas não eram, para ti, um problema, pelo que as aceitavas passivamente como outro qualquer processo da vida.
Vais ser um amigo que eu vou guardar para sempre, porque me ajudaste a crescer, e muito! Espero que nunca nos percamos, que nunca nos esqueçamos e que nunca sintamos a falta um do outro, porque será sinal de que continuamos a fazer parte da nossa vida.
Gostava vivamente que aceitasses aquilo que te quero pedir. Era a maior prenda que me podias dar.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

"Ao ver-te, Lisboa, Lisboa..."

A água quente jorrava pelo corpo, relaxando-o. A pouco e pouco, os músculos tensos, ressentidos de um cansativo dia diferente, sediam perante a temperatura alta. Nuvens de vapor enchiam o espaço, escuridão pontuada por três pequenos pontos de luz, oscilantes.
Enquanto a água caia sonoramente sobre a cabeça, tombada, os pensamentos vagueavam, absortos. Recapitulavam a jornada, elencavam momentos.
Lembro-me dum deles. Encostado a um banco, esperando pela próxima paragem, lancei um olhar em meu redor. De casaco vermelho e cabelo, loiro, apanhado, havia acabado de entrar, tendo permanecido à porta. No outro banco, de mãos nos bolsos, fitava a assistência, enquanto que uma das pernas das calças de ganga, clara, não tapava a língua das botas, castanhas. Ao seu lado, uma figura obesa trauteava labialmente uma música que saia dos finos fios brancos, realçados na blusa de malha, azul, D&G, certamente da feira de Carcavelos. Outro, de cicatriz, profunda, na cara, procurava fazer um cigarro, mesmo que o balanço da carruagem insistisse em não o permitir. Uma figura alta, chocolate, havia entrado a rir, e ocultara-o. Inspeccionava consecutivamente as palmas das mãos, brancas, rugosas.
Caras sem origem, rostos sem fim. Apenas pessoas com destinos e horários, que entram e saem, e fazem daquele um dia absolutamente normal, mais um, no lento, moroso e rotineiro desenrolar das suas vidas.
Serei eu mais um?
Rapidamente fui contagiado pelo espírito cosmopolita, que nos impulsiona e constrange quem não se filia nos ritmos frenéticos. Somos coagidos a correr, a lançar-nos escada acima, escada abaixo, como se de nós dependesse o futuro do mundo. No entanto, procuramos apenas apanhar a ultima carruagem. Virei eu a ser mais um que anseia apanhar esta última carruagem?
Por vezes parece que está tudo tão decidido, tão claro, planeado e certo. Mas outras vezes…
Enquanto a água continuava a jorrar tepidamente, eu pensava naquela cidade, naquele cosmopolitismo, e naquelas caras, rostos que vão e vêem, eles não sabem quem somos, nós não sabemos quem eles são. E nós, sabemos quem nós somos?

sábado, 31 de janeiro de 2009

this is the last time...

De repente, a saudade antecipada tem-me atormentado a alma, esmaga-ma, comprime-ma, sufoca-ma. Tenho um nó no peito, que me dificulta a respiração, que ofusca a racionalidade.
Será possível sentir saudades do que ainda não se viveu? Talvez seja… Imagino-me frequentemente, cá em casa, rodeado de caixas de papelão abertas para receber os livros, as molduras, as recordações…
Enroladas em folhas de jornal, eu arrumo, cá dentro, tudo quanto me marcou nestes anos em que fiz de Évora a minha casa de acolhimento.
Sempre que entro no meu quarto lá estão vocês, na minha parede. Todos vocês, em negro sobre branco. Lembro-me de cada um daqueles momentos. Por vezes conseguiria descrevê-los de forma quase cirúrgica. Os traços, as cores, os rostos, os sorrisos, os destinos…
Imagino-me, muitas vezes, a tirar-vos, um por um, e a guardar-vos cautelosamente numa das caixas de cartão que me rodeiam, tentando não vos magoar. Imagino como deve ser difícil e por isso vou querer fazê-lo sozinho, isolado, em silêncio para me poder gerir, para poder rir, para poder gritar, para poder sentir que é a ultima vez que o faço.
Quantas caixas são precisas para guardar quatro anos? Estou a fazer contas… … mas não cheguei a nenhuma conclusão. Esta é uma daquelas coisas que apenas saberei na altura… uma altura que eu não quero que chegue.



Dia 30 de Maio… Parecia tudo tão longínquo e distante, não parecia?

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

de guarda-chuva aberto...

Anoiteceu…
O céu, de um negro nocturno, era pontuado por clarões amarelos, intensos, provenientes da iluminação urbana.
Naquelas ruas vazias e desertificadas, deambulava eu, sem grande pressa de chegar a casa.
O som melancolicamente alegre, provocado pelo gotejar dos telhados, fazia companhia ao passo cadenciado.
Aqui e além, ao fundo, no meio da escuridão, uma pessoa fugitiva, de chapéu-de-chuva erguido, encaminhava-se quotidiana e rapidamente para casa. E eu, vagaroso, mantinha o meu passo cadenciado.
De vez em quando, um grosso, grande e frio pingo de chuva despertava-me dos meus mais profundos pensamentos, para os quais regressava de imediato, passada a inicial fase de desconforto.
O “sonhante” há muito que havia ido, desaparecendo no meio do aguaceiro. Mas eu continuava a deambular pelas ruas vazias e desertificadas.
A determinada altura, vi a porta verde de barras azuis da Madre de Deus. Há muito que aqui não passava, porque também havia perdido o motivo para aqui passar.
De repente, mais um aguaceiro… e o meu passo abrandou… porque, na verdade, gosto de andar à chuva. Não sei bem explicar. É um misto de conforto e fragilidade, de protecção e de pequenez, que me faz sentir livre e desprendido.
As mãos, húmidas, denunciam um furo na armadura invernal. Mesmo assim, insististe em apertá-las, na despedida, prova de que a amizade é a aceitação completa do outro, esteja ele como estiver, seja ele como for.

No meio da cidade, de guarda-chuva aberto, eu deambulava, sem grande pressa de chegar a casa…

domingo, 18 de janeiro de 2009

Insónia, talvez...

Hoje não tenho sono…
Apetecia-me escrever, escrever, escrever… de vez em quando tenho crises destas, mas então, que se pode fazer?
Já estava deitado, aconchegado… mas não consegui deixar de vir responder ao meu amigo, veja-se só, a estas ricas horas…
Enquanto não adormeço, penso, penso, penso… imagino cenários futuros, hipotéticos, mas brevemente reais… transponho a barreira da saudade antecipada e penso, penso, penso…
Curiosamente não fico triste. Talvez porque ainda pareça tudo algo distante, envolto em grandes manchas nubladas. Só tenho medo de não me conseguir despedir de todos quantos quero. Gostava de conseguir dizer a todos o quanto gosto deles, mas tenho medo que as palavras não cheguem, não estiquem, não atinjam o verdadeiro âmago sentimental.
Por enquanto, um dia de cada vez. Talvez seja a melhor opção.
Já estou a ouvir a cama a chamar-me, cada vez mais alto. Talvez vá recolher-me, aconchegar-me, e talvez adormecer…

Talvez me consiga despedir de todos quantos quero… Talvez consiga arranjar palavras para tal… talvez…

Passeio nocturno

Gostei deste passeio…
Pelas ruas de Évora, a chuva miudinha beijava-nos timidamente a cara, humedecia-nos o cabelo, pontilhava-nos a roupa.
De vez em quando uma aragem provocava-nos um arrepio, fazia-nos aconchegar nas nossas peças invernais, mas logo passava.
Os candeeiros iluminavam fracamente as tortuosas ruas, como se não pretendessem incomodar os passeantes, a conversa, ou o agradável silêncio nocturno. Que calma se escutava naquelas ruas, que tranquilidade, que sossego…
A chuva miudinha insistia em beijar-nos timidamente a cara, mas não me apetecia ir embora. Apetecia-me andar e andar, encher fortemente o peito de ar e senti-lo a entrar nos pulmões.
Portas e janelas cerradas. As ruas fechadas para o mundo. Só se abriram para nós podermos passar e vaguear, sem rumo e conversa certos.
Apetecia-me tanto ter continuado este passeio… fez-me sentir livre e desprendido, isolado de uma vida que tenho de seguir, afastado de compromissos que sou obrigado a acatar. Foi bom não pensar em nada! Mas faltaste-me tu...
Agora, no silêncio caseiro, partilho estas sensações, porque são momentos como este que eu gosto de deixar gravados no meu bloco de emoções…

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Silêncio forçado...

Não gosto do silêncio…

Não gosto de estar sozinho…

Quando me sinto assim… refugio-me na escrita e nestes pequenos textos que crio. No fundo, não espero que alguém os venha a ler porque são somente um escape, uma companhia, algo a que recorro para preencher 2 minutos da solidão forçada.
Uma mensagem ou um telefonema preenchem, ocasionalmente, a penumbra silenciosa em que me encontro. Mas faltam-me as pessoas, os gestos, os risos, os olhares… Fazem-me falta os amigos, as pessoas de quem gosto aqui, mesmo a meu lado. Falta-me a presença calorosa delas.
Nestes momentos, espero somente que o tempo passe e que algo de relevante preencha a penumbra forçada em que me encontro. Contudo, isso nunca acontece…

Já tinha dito que não gosto do silêncio nem de estar sozinho?

Intensidez...

Gosto de falar contigo. As conversas que tens revelam segurança e conhecimento. As coisas que dizem parecem fáceis e claras aos ouvidos de quem as escutam.
Alertas. Avisas. Aconselhas.
Gosto de prestar atenção às tuas ideias minuciosamente apaixonadas. Ela tem de facto muita sorte por te ter “escolhido”. Lembras-te de coisas que mais ninguém se lembraria, imaginas coisas que mais ninguém imaginaria.
Quem olha para ti, vê apenas a extroversão e a alegria. Só quem priva contigo é que tem contacto com as ideias concebidas e o futuro delineado que possuis. E menos ainda são aqueles que entram no teu espaço sagrado (como se tu acreditasses nisso…) e têm o privilégio de saber o que mais ninguém sabe. “Eles não sabem é jogar ao verdade e consequência…”.
O olhar que depositas nas fotografias, seguro e profundo, não nasce do acaso. É o olhar que também depositas na vida e nos objectivos que concebes para ela. Não pactuas com as habituais dúvidas e os recorrentes desleixos característicos destas idades. Depositas o máximo em cada coisa, e achas sempre que podias ter feito melhor, mesmo quando tal parecia não ser possível.
Gosto de ver o teu sorriso na cara. A princípio não o conhecia. Mas felizmente há factos que não são obra do acaso. Acreditas no destino??
Não me vou esquecer da tua capa ao ombro, do teu ar sério mas brincalhão, das tuas piadas certeiras e aguçadas.
Conhecemo-nos por acaso. Não era suposto, pois não? Poderias ser mais um no meio da multidão negra… mas não foste. Já te perguntei se acreditavas no destino??
Gosto do ar sorridentemente infantil com que abres os presentes. De repente regrides uns anos, e assemelhas-te a uma criança, espantada e surpreendida, ao pé da árvore de natal.
Quem te tem como amigo tem certamente muita sorte. Porque há pessoas que conhecemos que nos impossibilitam de as esquecermos. E porque há conversas que têm que ficar registadas no nosso bloco de memórias…

sábado, 3 de janeiro de 2009

Ainda vejo fotos antigas...

Claro que tive de me ir recompor…
Eu não consigo.
Há quem reitere que já não vê fotos antigas.
Mas eu não consigo!
E claro! Claro que, depois, tive de me ir recompor…

Olhar perdido...

Sempre gozaste comigo porque me emocionava “facilmente”. Ou assim pensavas tu! Dizias, no teu vocabulário tão próprio, que eu “definhava” com todas aquelas coisas que me fazem, efectivamente, “definhar”.
Sempre quiseste demonstrar, com o teu ar brincalhão e despreocupado, que nada te fazia comover, mesmo quando a altura era mesmo propícia a esse tipo de emoções as quais, confesso, por diversas vezes tenho posto a nu. E tu sempre gozaste comigo!, mas como bem sabes, nada do que pudesses dizer me faria agir de outra maneira.
Mas ontem, naquele banco animado, tu comoveste-te. Não sei de que te estavas a lembrar, nem sei que estavas a recordar, mas o que é certo é que te comoveste. Podes dizer que foram mil e uma coisas, podes justificar-te dizendo que o motivo residia nos consecutivos copos vazios que tínhamos em cima da mesa. Mas comoveste-te!
Na verdade, eu sempre soube que por detrás dessa menina-de-ferro estava uma rapariga com emoções, mas emoções que não são tidas para serem partilhadas em grupo.
Nessa altura comovi-me também, assim como me estou a comover por estar a escrever este texto. E comovi-me, não que partilhasse da mesma angustia que te enchia o olhar vazio de lágrimas rasantes, mas porque sempre me habituei a ver-te como a rapariga-hiperactiva-que-está-sempre-em-grande-animação-e-pronta-para-a-rambóia-que-nunca-se-comove-com-coisas-lamechas.
Ninguém reparou. E apeteceu-me abraçar-te. Mas achei que não iria ajudar-te. Precisamente porque ninguém reparou.
Lembrei-me de escrever este texto. Curto. Porque te queixaste que redijo sempre crónicas muito grandes.
Não me vou esquecer do teu olhar perdido nas brumas do passado. Porque há coisas que gosto de deixar escritas no meu bloco de memórias!...

Porque o relógio já ia adiantado...

Espaço agradável, moderno. Interior contrastante com o exterior antigo, envelhecido, classificado. Cores amenas, tons escuros. À frente uma chávena, grande. Café gostoso, reconfortante. Companhia agradável, amiga. E no meio de muitos novelos de conversa, a eterna saudade, antecipada.
As conversas foram e vieram. Falámos de velhos assuntos e de novos temas de conversa, marcados pela atitude das pessoas e pela presença das pessoas na vida.
A certa altura, falou-se do passado. Do passado longínquo, do passado – presente. Ainda se tentou falar do futuro, mas talvez tivéssemos entendido, inconscientemente, que não seria a altura indicada para tocar nesse assunto. Talvez seja demasiado cedo para falar do futuro…
Explanámos, então, como o passado – presente está ainda tão presente (afinal também não passou tanto tempo quanto isso…). Mais atento à conversa do que participativo, com uma mão que suporta a cara, ouvia, certamente embevecido, a conversa. Apeteceu-me permanecer calado a ouvir os desabafos de uma amiga, em vez de participar nela, porque tenho medo de me repetir e porque acho que não sou um bom contador de histórias… e porque acho que, paradoxalmente, ganho mais e dou mais enquanto ouvinte do que enquanto interlocutor.
E no meio de muitos novelos de conversa, a eterna saudade, antecipada. Recordei-me do velho menino que sabia que a sua vida ia mudar, que ia tomar um novo rumo. Mas que rumo? Recordei-me do menino que chega cheio de interrogações e de receios, mas também cheio de sonhos e ambições.
Parece que foi há tanto tempo… mas não foi. E isso é arrepiante! E é arrepiante ter a plena noção de que uma página da nossa vida se está a virar, e que nós pertencemos a essa história, que está diariamente a ser escrita, a qual nós escrevemos e na qual figuramos, como personagem principal.
Lembrei-me do menino, anónimo, que chega a um local novo, e tem de começar tudo do zero. Sou o menino que agora olha para trás e assiste ao seu percurso. Se fosse hoje, teria mudado alguma coisa?? Certamente. Admiro as pessoas que se gabam de ter um percurso imaculado e incorrigível (mas duvido até que ponto isso é verdade).
Sentados naquele espaço agradável, moderno, relembrámos, momentaneamente (até porque o relógio já ia adiantado) aquilo que fomos, aquilo que somos, mas não aquilo que seremos, talvez porque, inconscientemente, entendemos que não seria a altura indicado. Talvez porque seja demasiado cedo para falar do futuro…
Certa altura, a conversa terminou. Talvez porque o relógio já ia adiantado. Mas seria só por isso? Ou seria esta uma desculpa simpática, uma razão estratégica para não falar de assuntos que não são convenientes, que custam a ser digeridos, que doem ao serem relembrados? Vou acreditar que foi apenas porque o relógio já ia adiantado. E vou acreditar que é demasiado cedo para falar do futuro.
Mas quando será a altura indicada para falar do passado?
Num espaço agradável, moderno, quatro amigos conversavam, agarrado, cada um, ao seu bloco de memórias…