quarta-feira, 15 de abril de 2009

Verbos reflexos

Sinto-me cansado, extenuado, exausto.
Custa-me respirar, custa-me pensar.
O olhar pesado denuncia horas de trabalho intensivo, seguido, continuado.
Apetece-me parar. Mas não posso. Apetece-me descansar. Mas não posso. E sinto-me cada vez mais cansado.
Pergunto-me se se trata de uma desculpa, uma desculpa para não enfrentares algo? E eu respondo: em parte sim.
Farto-me de repetir a mesma história, os mesmos argumentos, os mesmos episódios. A resposta parece ser clara e evidente. Parece. Mas ao mesmo tempo parece tão inatingível.
Não fujas! Não fujas! Não fujas! (repetirei quantas vezes forem necessárias até que se torne uma verdade absoluta e uma decisão tomada!)

O meu olhar cansado e o meu sorriso abatido não deveriam ser tão denunciadores!

(peço desculpa por ter tornado este pequeno discurso tão só meu… mas há desabafos que necessitam de ser exorcizados, de qualquer forma)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Imagens

“Fiquei sem nada. Até fiquei sem os meus dentes”…

Aqui ando eu, na morada oficial, de roda das arrumações pós-férias. Mala daqui, mochila dali… dobra, envolve, guarda… enfim, nada de extraordinário e de paranormal na vida de um qualquer nómada dos tempos modernos.
No meu quarto, rodeado dos meus livros, das minhas coisas (mais ou menos importantes, mas no fundo, recordações), dos meus bocadinhos de pessoa que sou, verifico-me que os meus pensamentos estão completamente em piloto automático. Vagueiam, pesquisam, lembram, assomam… e mais uma vez, desde há alguns dias para cá, fixo-me e fixam-se naqueles rostos, naquelas expressões, naquelas emoções. Rostos de quem apenas ficou com a vida, expressões de pesar e de desamparo, emoções de quem precisa de força para ter esperança.
A esperança é a ultima a morrer, diz-se… mas onde se encontra a esperança quando se perdeu tudo? Aquela velhota, agarrada a uma qualquer autoridade ou socorrista, gritava desesperadamente e dizia: “Fiquei sem nada. Até fiquei sem os meus dentes”.
Debaixo daqueles telhados ficaram vidas. Debaixo daquelas paredes, recordações. No meio dos amontoados de entulho, a dor e o sofrimento estampados de quem, em segundos, ficou sem nada… sem um livro, sem uma fotografia, sem um par de sapatos, sem um filho, sem um irmão, sem um pai…
Onde se vai buscar a força para sobreviver? Onde se vai buscar a coragem para continuar?

No meio de uma cidade feita de ruínas e de rostos empoeirados feitos de pesar, uma velhinha gritava, porque havia ficado sem nada… e há imagens que não conseguimos esquecer…

domingo, 12 de abril de 2009

Carnaval na rua, Páscoa no café...

Sinceramente, a Páscoa não é aquele momento do ano que, enfim, mais significado tenha para mim. Tradicionalmente, época de recolhimento, reflexão e contrição, mas também de saudosas reuniões familiares, para mim não há nada disto, o que se justifica tão simplesmente por dois factos: não sou um religioso fervoroso e não tenho família para andar a reunir em grandes almoços feitos do desfiar das (mesmas e recorrentes) recordações genealógicas.
Os dias aparentemente solarengos e amenos escondiam noites profundamente gélidas e invernais, que desencorajavam qualquer saída prolongada e desagasalhada. No entanto, foi precisamente durante esses dias aparentemente solarengos e amenos e durante as noites profundamente gélidas e invernais que eu aproveitei para vos ver, para vos sentir, para vos ouvir e para vos radiografar visualmente, guardando os vossos contornos enquanto o tempo, a distância e as nossas vidas não permitam um novo reencontro.
Tinha tantas saudades vossas, tantas… São, no fundo, as recordações presentes dum passado não muito longínquo, mas cada vez mais longínquo.
Falamos sobre tudo porque não temos segredos, não temos vergonhas, não temos espaços nossos porque tudo é de todos. Antecipamos as opiniões, completamos as frases, adivinhamos os olhares e interpretamos os pensamentos simplesmente porque nos conhecemos uns aos outros como a nós próprios. E isso é tão bonito… e encontra-se tão pouco ao longo da vida…
As recordações voam, as opiniões pululam, os sonhos emergem e suspiram-se os desaires. Mas fazemos tudo isto porque nós somos nós, e não permitimos a admissão de mais ninguém!
Por agora, as despedidas! Cada um vai regressar ao seu meio, à sua outra vida, a vida que se faz lá, nos sítios de lá, com as pessoas de lá, nos horários de lá e cos quotidianos de lá.

Temos crescido tanto, não temos? Tenho notado tanto isso…

Ainda agora nos despedimos, e eu já tenho saudades…

quarta-feira, 8 de abril de 2009

1 carneiro, 2 carneiros, 3 carneiros...

Esticado, tapado e aconchegado no meu leito nocturno, tento, sem sucesso algum, adormecer.
Dou voltas e voltas, e paraliso-me. Aumento-me e encolho-me. Alargo-me e reduzo-me. Braços e penas encolhidas de forma fetal, que rapidamente tactearão os novos espaços gélidos da cama, cansados de estarem comprimidos desnecessariamente.
Fecho os olhos, bem cerrados, e penso em mil e uma coisas para ver se o cérebro hiberna até amanha de manhã, hora em que serei obrigado a acordar (para mal dos meus pecados…), recordando amargamente: “porque é que não te deixaste dormir mais cedo, caramba?”. Essas mil e uma coisas deveriam servir, à partida, para me deixar dormir. Mas não!... só servem para me manter acordadíssimo cerebral, física, psicológica e mais não sei quantos “mentes” (vulgo advérbios, de qualquer coisa, pressuponho eu…) por mais uns quantos minutos, que prometem ser longos… Ora então muitos obrigadinhos!!, por nada, claro está!
Entretanto passo para outro plano estratégico, que já não sei se é o B, o M, o Z ou o F ao quadrado vezes 5, sobre 7, raiz quadrada, a dividir pelo PI, noves fora… … … (alucinações noctívagas, portanto). Como estava a referir, passo para o plano X (não por ser letra do alfabeto, mas sim por ser uma incógnita, ou lá como é que se diz na distante matemática) e preparo-me para contar carneiros… pois dos carneiros passo para as ovelhas, e das ovelhas para as cabras, e das cabras para o resto do estábulo, e depois para a bicharada inteira… e nem que viessem 30 zoológicos inteiros, mais os tratadores, as meninas da bilheteira e as avozinhas com os netinhos e as 300 excursões que querem ver a aldeia dos macacos, me chegava o raio do sono!
Ora c’os diabos, hã? Logo para o que me havia de dar hoje…
Bem, como tudo, esta insónia mal disfarçada tem uma razão: é o resultado de algumas noites a seguir fiel e religiosamente tudo o que são séries criminais; porque os exames das balísticas, dos odores, das colorações, do “quem”, do “onde” e do “porque” dão tudo o seu trabalho e porque às vezes os malandros dos assassinos, dos violadores e da demais tropa “fandanga” não se deixam apanhar, e mais não sei quê. Já para não falar quando não se sabe quem morreu, porque o corpo ficou em tal estado (tadinho… morre tanta gente para se fazerem estas séries… txi… nem sei como é que ainda há voluntários para estas coisas…) que nem dá para identificar nada! Mas eles, espertos como são, e ajudados, claro está, por aquelas maquinetas todas “X-P-T-O”, lá conseguem saber quem foi a alminha sacrificada desta vez.
Entretanto, permaneço no mesmo sítio, tal e qual… eu cá ouço a noite, eu cá ouço o tic-tac do relógio digital, eu cá ouço tudo e mais alguma coisa… menos o sono a chegar a passo de cavalo. Estou bem tramado hoje… Eu bem olho, no meio da escuridão, para o que me é possível vislumbrar, mas a espertina é mais que muita (e a parvoeira também, como se tem comprovado aqui!).
Bem se calhar o que tenho a fazer é virar-me para o outro lado e começar a contar carneiradas outra vez. Ora cá vai disto: 1 carneiro, … … 179 carneiros, … … 3 644 carneiros, … … 1 650 348 carneiros, … …

domingo, 5 de abril de 2009

Dicotomias e, às vezes, apetites...

Apetece-me, e não me apetece…
Às vezes, apetece-me fugir, desligar telemóveis, permanecer incontactável horas a fio, desaparecer do mapa, do planeta, da galáxia. Começar tudo do inicio, sozinho, afastado.
Às vezes apetece-me ir. Se vou, apetecia-me ter ficado. Ou até já lá estar.
Interesso-me e não me interesso.
Faz-me falta. Ou então nem me lembro.
Queria falar ou nem quero ouvir.
Saio de casa, ou enrosco-me em apatia.
Tomara que me ligues, ou nem te lembres que eu existo.
Pensamentos reprimidos que vou soltando em bocejos, em meias palavras, expressas entre dentes, como se medo tivesse que elas fossem escutadas.
Desejoso que me perguntes o que se passa ou espero que nem te ocorra perguntar nada.
Às vezes sinto-me assim, dividido entre dicotomias parvas, irracionais. Tendo procurar uma resposta, mas não a encontro. Tento procurar um motivo, mas ele não está lá. Tento procurar uma solução… encontro-a… mas como a tomo?
Sinto-me cansado, quase a roçar a exaustão. Mas isso é só as vezes…
Entre o motivado e o desmotivado. Entre o divertido e o apático. Entre o activo e o inerte. Entre o sociável e o eremita.
Se estou parado, acho que devia iniciar. Se inicio, já me desmotivei. E agora? Sigo para a direita ou para e esquerda?
Como é que exorcizo estes fantasmas? O que vale é que só me aparecem muito de vez em quando, entre um dia cansativo e uma noite mal dormida.
Sinto que tenho tanta gente… e ao mesmo tempo sinto que não tenho ninguém. Que sou um máximo e que sou (isso, diz o que estás a pensar… Para que reprimir?) uma grandessíssima merda. Sou giro e sou horrível. Sou tudo e talvez não seja nada.
Certezas ou dúvidas?
Verdades ou tontarias?


Durante algum tempo, ainda me questionei se devia, ou não, escrever este texto…