quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Sensação estranha...

Sensação estranha esta…
È como se fosse partir para outro mundo, para outro universo, e nunca mais pudesse voltar… É a imagem da mãe que acena com um lenço branco para o filho que embarca, entre milhares de soldados, para a guerra, sem saber se voltará ou como voltará!
Calma!!! Eu domingo já regressei!!! Mas por momentos é esta a visão do futuro, a visão do jovem que parte e se despede para sempre do sitio, das pessoas, sem saber quando, ou se voltará… Mas nisso não quero pensar já porque calma!!!, eu domingo já regressei!!!

Em cima da cama, a mala aberta. Roupa dobrada. Roupa por dobrar. Os dilemas do costume! A mala é para três ou quatro dias, dias que pareciam nunca mais chegar, dias que poderiam não ter passado de desejos e ambições.

Abotoa. Vira. Alisa. Manga direita. Manga esquerda. Dobra ao meio. Dá o retoque final. Pronto, esta camisa já está! Tive direito a abraços e beijinhos, vejam só! Abraços e beijinhos que não são usuais, de pessoas que normalmente me cumprimentam como normalmente se cumprimenta uma pessoa. Mas desta vez foi diferente, foi sentido, foi carinhoso, foi amigo! Porque é que se despediram de mim como se eu nunca mais voltasse? Até estou com um nó no estômago só de pensar. Mas de pensar em quê?? Que parvoíce, não há razões para estar assim!

Cintos, Cachecóis, Casaco. Bolas, logo agora é que está a ficar tanto frio! Mas frio sinto eu na barriga, e na alma. Porque é que tudo isto me soa a despedida? Que “tontaria” (como diria a professora Mafalda). Calma!!! Eu domingo já regressei!!!

À minha frente, textos de paleografia espalhados em cima da mesa. Hoje estou em Évora. Amanha, pela mesma hora, em Itália. É incrível, não é?, como dum momento para o outro a nossa vida já mudou. E dum momento para o outro a nossa vida muda, estabelecendo-se constantes conexões entre o ontem e o hoje, e entre o hoje e o amanhã.

E não sei porque apeteceu-me escrever, como se conseguisse aliviar a saudade das pessoas que cá deixo e das que vou ver amanhã, por esta hora!

Calma!!! Eu domingo já regressei!!! Mas por enquanto, que sensação estranha esta…

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

...Évora...

Percorro-te…
Sigo-te confortavelmente, palmilho-te e descubro-te… Convivo com as tuas nuances, com as tuas diferenças, com a tua dualidade claro-escuro de aguarela viva… as tuas pinceladas são de quadro impressionista, as tuas cores de obra naif.
Revelas-te dia após dia, e eu desfloro-te, na esperança de me deparar com aquilo que ainda não me deparei.
Olho-te!!! Não te vejo, como tantos e tantos. Olho-te e tu olhas-me. Mas eu sou mais um que passa por ti, quotidiana e rotineiramente. Mas tu para mim és o berço que me acolheu, és o espaço que teluricamente me tem visto crescer. Quando me verás partir? Deixarei saudade? Acredito que não… porque eu sou mais um que passa por ti, quotidiana e rotineiramente.
Sei-te de cor, como diz uma certa musica já muito badalada nas rádios dos automóveis. Ou talvez não… consegues-me sempre surpreender, revelar um pouco mais de ti, um pouco do que tens escondido e que revelas, acredito eu, apenas a alguns, aos mais atentos, aos mais apaixonados, aos mais interessados. Tens sempre algo de novo, de misterioso, de fantástico. Um espaço, uma cor, uma janela… Tens a capacidade de te renovar, de te expor delicadamente, de modo paulatino e sensível.
Adoro-te tanto quanto te odeio. Tens tanto de acolhedor como de repulsivo. Já me viste das formas que qualquer um me pode ver… ou talvez até mais. Talvez saibas que naquela pessoa há algo mais do que visivelmente transparece, porque há coisas que só confidenciamos às pedras da calçada. E tu sabes disso…
És fotografada vezes sem conta. Mas já alguém terá conseguido retratar-te a alma? A Évora escondida, absorta, a Évora que não vem nos mapas turísticos nem é visitada pelas moles de visitantes que te gastam e te consomem.
Eu sou mais um que passa por ti, quotidiana e rotineiramente. Será? Será que nunca reparaste em mim? Decerto que não. Para ti são mais dois pés que, em passada larga, te percorrem, te palmilham e que, por vezes, te descobrem.
Qualquer dia fotografo-te... mas não te tiro uma daquelas fotografias globalizantemente turísticas… Qualquer dia tiro-te uma fotografia à alma!! Uma fotografia diferente de qualquer outra, única, irrepetível. Uma fotografia que fará parte do meu álbum, do meu álbum de memórias, do meu bloco de apontamentos que não mostro a ninguém, porque é só meu, onde só entram emoções e que não é passível de ser transcrito em palavras, verbos e adjectivos. Um álbum que só eu sei onde se encontra, um álbum onde tu estás, e sempre estarás!!
Eu sou mais um que passa por ti, quotidiana e rotineiramente. Mas tu para mim és a cidade que me acolheu quando a minha alma precisava de uma nova morada e de um novo espaço. Esse lugar e esse espaço és tu, e eu não me vou esquecer de tamanha hospitalidade…