terça-feira, 24 de março de 2009

Fast Food

Protegidos pela noite e enroscados no meio duma aragem (demasiado) fresca que se fazia sentir, lá estávamos nós, em plena quadratura, entregues aos sabores imediatos proporcionados pela estandardizada comida rápida.
Serão agradável, este!
Lá te convencemos, não foi?
A noite encarregou-se de deixar cada uma nas suas casas, nas quais cada um entrou com pezinhos de lã, para não incomodar os demais, e se entregou aos ansiados e aconchegantes leitos.
Eu optei por me entregar ao mundo das palavras e dos sentidos, não que a inspiração fosse muita, porque não era, mas porque me apeteceu vivamente guardar este simples momento no meu bloco de memórias. O momento em que, protegidos pela noite e enroscados no meio duma aragem (demasiado) fresca, quatro amigos se entregavam aos sabores imediatos proporcionados pela estandardizada comida rápida.

domingo, 15 de março de 2009

Varanda dominical, ou a apologia dos textos não-lamechas

O serão foi avançando, a lua subindo, enevoada, no horizonte celeste e a noite arrefecendo e exigindo uma fina blusa, sobreposta às camisas coloridas de mangas arregaçadas. As conversas, essas, foram fluindo e confluindo.
Por vezes abstraia-me e procurava beber daquele magnífico cenário que se desenrola em frente à varanda dominicana de domingo.
Pela colina, as casas dispõem-se de modo ondulante, sinuoso, e os grandes edifícios demarcam-se pela sua volumetria e intensidade luminosa, contrastante com o casario sombrio e escurecido.
Os pináculos eclesiásticos, as janelas anónimas e as ruas tortuosas, todas se definem e se confundem ao mesmo tempo, levando o espectador a percorrer, com o olhar, esta enorme tela disposta majestosa e estaticamente diante dos nossos olhos.
É um regalo para a vista ver Évora desta varanda, nestas noites serenas e tranquilas que convidam à conversa, ao passeio, ao sossego. Cenário que nos inebria e envolve, apesar da cafeína disfarçada com natas, tão habitual neste espaço de religioso encontro.

(especialmente para ti, que me acusas repetidamente de apenas publicar textos apelidados de “lamechas”)

sábado, 14 de março de 2009

Quispos...

A Primavera aproxima-se rapidamente! Os dias longamente ensolarados convidam ao passeio, à esplanada, às camisas coloridas de mangas arregaçadas.
Saem os óculos de sol e os sorrisos de quem já, há muito, ansiava pelo bom tempo, que nos aquece, que nos reconforta, que nos alegra e distrai.
Junto ao jardim, as enraizadas glicínias lançam já o seu característico aroma, enquanto se contorcem pelo meio do secular gradeamento. As suas flores ainda não desabrocharam, mas o colorido cheiro, esse sim, já se faz sentir.
O sol, fortemente luminoso, projecta-se de encontro às paredes brancas da cidade, iluminando-as e secando-as da humidade invernal que as corroeu.
Chegado a casa, à minha casa, descarrego o carro, e tiro as malas, as mochilas, os sacos. Desta vez também vieram os quispos porque, afinal de contas, vão deixar de ser necessários. Mas é ai que o meu corpo sofre um baque, uma paragem e a mente inicialmente paralisa, para depois deixar que os pensamentos fluam com mais racionalidade. É aí que eu penso: “esta é a última vez que eu trago os quispos de Évora…”.
A princípio, poderíamos até ser contagiados por uma gargalhada escondida, dissimulada. Contudo, a situação é bem mais constrangedora do que se pode pensar inicialmente pois até a simples atitude de trazer os grossos quispos, findo o Inverno, me faz cair na pesada realidade, como se eu não me visse obrigado a lidar com ela, todos e todos os dias...

terça-feira, 10 de março de 2009

Falsa abstracção

Tento esquecer-me, tento abstrair-me, ignorar a contagem decrescente acelerada, demasiadamente acelerada. Mas é aí que surge a mensagem, a palavra, a conversa, o rosto, o sorriso, a memória e a saudade.
Começa a fase das decisões. Antecipa-se a fase das despedidas, que não são verbalizadas, apenas visualizadas entre uma névoa de comoção e anseio.
Vejo-vos… Revejo-vos… estão todos aqui, todos os dias.
Cada flash captou-nos e imortalizaram os sorrisos, os espaços, os momentos. E é por isso que aqui vos tenho, para vos ver dia após dia, todos os dias.
Quem me dera que tudo tivesse sido mais cor-de-rosa, mais perfeito, (ainda) mais feliz. Quem me dera que as despedidas não custassem tanto, mas vão custar, não vão?
Têm elogiado o blog, o meu blog, onde descargo todas estas anotações, repositório de mim e de nós. Arquivo de emoções, gaveta de recordações, de fotografias textuais, da dualidade do tudo e do nada, do implícito e do explícito, porque há contornos que nem as palavras conseguem exprimir.
Às vezes pergunto-me do que vou ter mais saudades… Obviamente que não encontro resposta, porque é notoriamente mais difícil encontrar uma resposta que formularmos uma pergunta.
Uma lagrimazinha assoma aos olhos, de vez em quando, a garganta treme e a voz falha. Quem me dera poder dizer tudo o que queria antes do meu coração desobedecer às ordens da mente e da razão. Como tu dizes, talvez arranjemos um part-time num qualquer anúncio de uma qualquer marca de lenços e demais derivados…

Tento esquecer-me, tento abstrair-me, mas nem sempre sou capaz…