sábado, 14 de março de 2009

Quispos...

A Primavera aproxima-se rapidamente! Os dias longamente ensolarados convidam ao passeio, à esplanada, às camisas coloridas de mangas arregaçadas.
Saem os óculos de sol e os sorrisos de quem já, há muito, ansiava pelo bom tempo, que nos aquece, que nos reconforta, que nos alegra e distrai.
Junto ao jardim, as enraizadas glicínias lançam já o seu característico aroma, enquanto se contorcem pelo meio do secular gradeamento. As suas flores ainda não desabrocharam, mas o colorido cheiro, esse sim, já se faz sentir.
O sol, fortemente luminoso, projecta-se de encontro às paredes brancas da cidade, iluminando-as e secando-as da humidade invernal que as corroeu.
Chegado a casa, à minha casa, descarrego o carro, e tiro as malas, as mochilas, os sacos. Desta vez também vieram os quispos porque, afinal de contas, vão deixar de ser necessários. Mas é ai que o meu corpo sofre um baque, uma paragem e a mente inicialmente paralisa, para depois deixar que os pensamentos fluam com mais racionalidade. É aí que eu penso: “esta é a última vez que eu trago os quispos de Évora…”.
A princípio, poderíamos até ser contagiados por uma gargalhada escondida, dissimulada. Contudo, a situação é bem mais constrangedora do que se pode pensar inicialmente pois até a simples atitude de trazer os grossos quispos, findo o Inverno, me faz cair na pesada realidade, como se eu não me visse obrigado a lidar com ela, todos e todos os dias...

1 comentário:

diogo disse...

Como já te disse pelo msn, é incrível a força que momentos e situações aparentemente tão insignificantes podem ter em tempos de mudança... Compreendo a nostalgia pela qual já estás invadido por antecipação. Também acontece muito comigo. No entanto, nestas alturas, em que até sentimos que o está a acabar já devia ter acabado, o melhor é tentar aproveitar tudo ao máximo. Tenta, Carlos, fazer com que estes teus últimos tempos em Évora sejam memoráveis, não tenhas pena no presente por serem os finais, procura antes que te venhas a recordar deles com muita saudade no futuro. Bem sei que tudo o que te digo são meras palavras, que não têm força para mudar o que alguém sente nestas alturas mas, no fim de tudo, parece que são sempre as palavras a única coisa que nos resta (daí os teus desabafos neste blog, que desde já classifico como notáveis prosas). Aproveita bem este "fim de Évora" Carlos! E se precisares de carregar baterias (ou descarregar até), já sabes onde podes vir ;) grande abraço