segunda-feira, 19 de julho de 2010

À noite, no quarto, à mercê dos ponteiros do relógio - ou o Regresso.

Chego a casa depois de um simpático e falador serão entre amigos. Brindado a cerveja, fresca mas amena, chego a casa e encerro-me no espaço que continua a ser só meu (pelo menos até ver…). Abro a janela e deixo que o fresco da noite penetre o ambiente que nocturnamente escolho para habitar (que raios!, porque é que não consigo escolher um advérbio da família de noite, pergunto-me entretanto … ).
Apenas o candeeiro que criei esta tarde, entre ideias pensadas e pressas de final de tarde, bem regadas com o mau jeito da inexperiência em bricolages bem sucedidas, espelha as sombras dos objectos, dos meus objectos, desorganizadamente espalhados, atirados, amontoados. Ficou aqui uma bela obra – penso – prova de que, quando quero, quando imagino, a obra sai feita a papel químico. Porque não consigo mais vezes?, penso de seguida. Porque não quero? Porque não imagino? Porque nem tudo depende só de mim e da criação de um simples candeeiro que ilumina notivaga e efemeramente os objectos do meu quarto? Talvez não pense mais nisto, como de costume, aliás!
Enclausurado no meu quarto, hábito não habitual, condicionado pelas condicionantes, estico-me na cama e apercebo-me que o sono ainda não chegou. Vindo de carro, começo a imaginar uma história, e julgo que seria interessante publicá-la no blogue.
O blogue… Já nem me lembro há quanto tempo não escrevo nada… Há quanto tempo não o abro?, não o actualizo? Não sei, nem tão pouco vou ver. Por um lado, por preguiça. Por outro lado por medo, por receio do tempo que já passou desde então, por constatar tudo quanto foi dito numa altura em que fazia sentido dizê-lo, mas que foi mantido mesmo quando deixou de fazer sentido dizê-lo.
Sem me interessar pela data da última ‘postagem’, prossigo a criação deste esboço, desta maquete em que se baseia o meu regresso. Não vou dizer a ninguém que o fiz, porque se alguém se interessar procurará saber o que desabafo depois desta ausência.
Pensei que desta vez também seria giro inventar umas imagens, uns nomes, uns contextos!, brincar ao faz-de-conta do mundo da criação, misturado com ideais, com anseios, com desejos, com ambições, com sonhos, com mágoas, com ódios… Que sabe o que é ficção e o que é a realidade? Possivelmente, nem o próprio autor das invenções não patenteadas, que não há quem registe este tipo de devaneios de madrugada.
Pronto, fica o aviso… Os textos que se seguem são da exclusiva responsabilidade, não de quem os cria, mas das horas a quem se criam! E tenho dito, porque há coisas que nem a razão nem a mente comandam. Apenas a posição dos ponteiros do relógio!
Em sumo, este é o meu regresso!

terça-feira, 19 de maio de 2009

Turbilhão...

Turbilhão… Turbilhão de sentimentos, de opiniões, de desejos.
A indecisão perante a realidade. Lutar ou permitir? Fechar os olhos ou enfrentar?
Depois foi o teu envelope, deixado voluntariamente em cima da cómoda da entrada. O envelope que eu não abri com medo. Medo do que revelará, das palavras que certamente estarão contidas naquele pedaço de fita, envelope que só irei abrir junto de quem me sinta seguro. Porque é que deixaste aqui este envelope? Estavas suficientemente ausente da minha vida, porque apareceste agora??
Depois vem a tua fita, outra fita. Aquela que li ontem e já tenho saudades (e a qual certamente vou ler quando acabar este texto…). Palavras que escorrem em tom prateado e que me emocionaram, que me fizeram acreditar na amizade, que me fizeram acreditar que houve pessoas que ficaram marcadas por mim, que sentirão a minha falta. Saudade. Saudade que aperta, já, e que as tuas palavras fizeram apertar ainda mais.
Apetecia-me dar te um abraço forte, bem forte… aquele ficou muito aquém… um abraço de amigos, amigos ao nosso jeito, como tu próprio referes. Porque eu não tenho vergonha de dizer que te adoro (porque os amigos adoram-se!), que és uma pessoa que eu adoraria ter conhecido. E conheci!
Nunca esperei ler nada teu assim, tão profundo. Porque foste sempre muito poupado nas palavras. De vez em quando lá deixavas escapar uma mensagem mais aproximada daquilo que eu queria ouvir de ti. Porque as palavras são muito importantes para mim!, assim como os abraços! Mas a fita surpreendeu-me, e muito!
Vou ter muitas saudades tuas, acredita! Mas a vida não separa os amigos! Caso contrário, eu não o vou permitir!

Entretanto o envelope jaz, ali. Amanhã talvez tenha coragem de o abrir, junto de quem me sinto seguro.

Quanto ao turbilhão de emoções, ele já não supera o cansaço… e quanto à indecisão… logo se vê como corre amanhã o dia…

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Ausência prolongada...

Foi grande, esta ausência. Prolongadamente longa… os afazeres académicos, distribuídos entre a realização de trabalhos, trabalhinhos e trabalhecos, e os preparativos para a Queima, entre a idealização e concepção de fitas, marcação de jantares e demais ocasiões de celebração festiva, não me têm permitido passar por aqui para colocar mais um post it sentimentalista.
De qualquer maneira, a minha vida não tem tido, deste então, nada assim de tão relevante que merecesse ser escarrapachado neste espaço. Contudo, achei que esta ausência já era demasiadamente prolongada, e antes que a ASAE da blogoesfera me encerrasse o espaço comercial por falta de novidades e actualizações, resolvi esmiuçar qualquer coisita aqui para o bloco virtual.
A um passo do fim, a minha cabeça tem andado demasiadamente ocupada para pensar que estou, precisamente, a um passo do fim. Nem as fitas, primorosamente concebidas e saudosamente escritas, me têm sensibilizado para este facto. No entanto, tenho a admitir que sinto a alma carregada e os olhos pesados. Sinto que necessito urgentemente de descarregar o saco lacrimal, que ameaça rebentar pelas costuras. Por favor: alguma alma caridosa tem a bondade (de me auxiliar… ai não, não é isto que eu queria dizer aqui…) de me fazer um power point todo giro, e a puxar ao sentimento, para eu poder verter uns quantos decilitros? Muito agradecido pela gentileza…
Enquanto aguardo por esse momento, aqui permaneço eu, esperando dias melhores, dias de festejo, que nunca mais chegam, que nunca mais me tiram este peso de cima, me esvaziam a alma e folgam as costas. Foram quatro anos de reuniões e afazeres, de marcações e idealizações, de projectos (uns frustrados, mas uma grande parte concebidos) e de tentativas de união (essas sim, frustradas, na totalidade), de tudo e mais alguma coisa que servisse para por História no mapa dos cursos da UE e afastá-la dos comentários (bastante tristes, diga-se de passagem…) “ai também há História na Universidade??”, ou desperdícios de palavras, parolos, do género.
Confesso que neste momento me sinto cansado. É muito difícil nadar contra a corrente e tentar avançar contra o vento… no entanto, fez-se, fiz, o que foi possível, e me foi possível.
Um dia destes hei-de vir para aqui desabafar este tipo de recordações. Por enquanto fico por aqui, só para que a ASAE da blogosfera não me encerre o espaço comercial por falta de novidades e actualizações.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Verbos reflexos

Sinto-me cansado, extenuado, exausto.
Custa-me respirar, custa-me pensar.
O olhar pesado denuncia horas de trabalho intensivo, seguido, continuado.
Apetece-me parar. Mas não posso. Apetece-me descansar. Mas não posso. E sinto-me cada vez mais cansado.
Pergunto-me se se trata de uma desculpa, uma desculpa para não enfrentares algo? E eu respondo: em parte sim.
Farto-me de repetir a mesma história, os mesmos argumentos, os mesmos episódios. A resposta parece ser clara e evidente. Parece. Mas ao mesmo tempo parece tão inatingível.
Não fujas! Não fujas! Não fujas! (repetirei quantas vezes forem necessárias até que se torne uma verdade absoluta e uma decisão tomada!)

O meu olhar cansado e o meu sorriso abatido não deveriam ser tão denunciadores!

(peço desculpa por ter tornado este pequeno discurso tão só meu… mas há desabafos que necessitam de ser exorcizados, de qualquer forma)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Imagens

“Fiquei sem nada. Até fiquei sem os meus dentes”…

Aqui ando eu, na morada oficial, de roda das arrumações pós-férias. Mala daqui, mochila dali… dobra, envolve, guarda… enfim, nada de extraordinário e de paranormal na vida de um qualquer nómada dos tempos modernos.
No meu quarto, rodeado dos meus livros, das minhas coisas (mais ou menos importantes, mas no fundo, recordações), dos meus bocadinhos de pessoa que sou, verifico-me que os meus pensamentos estão completamente em piloto automático. Vagueiam, pesquisam, lembram, assomam… e mais uma vez, desde há alguns dias para cá, fixo-me e fixam-se naqueles rostos, naquelas expressões, naquelas emoções. Rostos de quem apenas ficou com a vida, expressões de pesar e de desamparo, emoções de quem precisa de força para ter esperança.
A esperança é a ultima a morrer, diz-se… mas onde se encontra a esperança quando se perdeu tudo? Aquela velhota, agarrada a uma qualquer autoridade ou socorrista, gritava desesperadamente e dizia: “Fiquei sem nada. Até fiquei sem os meus dentes”.
Debaixo daqueles telhados ficaram vidas. Debaixo daquelas paredes, recordações. No meio dos amontoados de entulho, a dor e o sofrimento estampados de quem, em segundos, ficou sem nada… sem um livro, sem uma fotografia, sem um par de sapatos, sem um filho, sem um irmão, sem um pai…
Onde se vai buscar a força para sobreviver? Onde se vai buscar a coragem para continuar?

No meio de uma cidade feita de ruínas e de rostos empoeirados feitos de pesar, uma velhinha gritava, porque havia ficado sem nada… e há imagens que não conseguimos esquecer…

domingo, 12 de abril de 2009

Carnaval na rua, Páscoa no café...

Sinceramente, a Páscoa não é aquele momento do ano que, enfim, mais significado tenha para mim. Tradicionalmente, época de recolhimento, reflexão e contrição, mas também de saudosas reuniões familiares, para mim não há nada disto, o que se justifica tão simplesmente por dois factos: não sou um religioso fervoroso e não tenho família para andar a reunir em grandes almoços feitos do desfiar das (mesmas e recorrentes) recordações genealógicas.
Os dias aparentemente solarengos e amenos escondiam noites profundamente gélidas e invernais, que desencorajavam qualquer saída prolongada e desagasalhada. No entanto, foi precisamente durante esses dias aparentemente solarengos e amenos e durante as noites profundamente gélidas e invernais que eu aproveitei para vos ver, para vos sentir, para vos ouvir e para vos radiografar visualmente, guardando os vossos contornos enquanto o tempo, a distância e as nossas vidas não permitam um novo reencontro.
Tinha tantas saudades vossas, tantas… São, no fundo, as recordações presentes dum passado não muito longínquo, mas cada vez mais longínquo.
Falamos sobre tudo porque não temos segredos, não temos vergonhas, não temos espaços nossos porque tudo é de todos. Antecipamos as opiniões, completamos as frases, adivinhamos os olhares e interpretamos os pensamentos simplesmente porque nos conhecemos uns aos outros como a nós próprios. E isso é tão bonito… e encontra-se tão pouco ao longo da vida…
As recordações voam, as opiniões pululam, os sonhos emergem e suspiram-se os desaires. Mas fazemos tudo isto porque nós somos nós, e não permitimos a admissão de mais ninguém!
Por agora, as despedidas! Cada um vai regressar ao seu meio, à sua outra vida, a vida que se faz lá, nos sítios de lá, com as pessoas de lá, nos horários de lá e cos quotidianos de lá.

Temos crescido tanto, não temos? Tenho notado tanto isso…

Ainda agora nos despedimos, e eu já tenho saudades…

quarta-feira, 8 de abril de 2009

1 carneiro, 2 carneiros, 3 carneiros...

Esticado, tapado e aconchegado no meu leito nocturno, tento, sem sucesso algum, adormecer.
Dou voltas e voltas, e paraliso-me. Aumento-me e encolho-me. Alargo-me e reduzo-me. Braços e penas encolhidas de forma fetal, que rapidamente tactearão os novos espaços gélidos da cama, cansados de estarem comprimidos desnecessariamente.
Fecho os olhos, bem cerrados, e penso em mil e uma coisas para ver se o cérebro hiberna até amanha de manhã, hora em que serei obrigado a acordar (para mal dos meus pecados…), recordando amargamente: “porque é que não te deixaste dormir mais cedo, caramba?”. Essas mil e uma coisas deveriam servir, à partida, para me deixar dormir. Mas não!... só servem para me manter acordadíssimo cerebral, física, psicológica e mais não sei quantos “mentes” (vulgo advérbios, de qualquer coisa, pressuponho eu…) por mais uns quantos minutos, que prometem ser longos… Ora então muitos obrigadinhos!!, por nada, claro está!
Entretanto passo para outro plano estratégico, que já não sei se é o B, o M, o Z ou o F ao quadrado vezes 5, sobre 7, raiz quadrada, a dividir pelo PI, noves fora… … … (alucinações noctívagas, portanto). Como estava a referir, passo para o plano X (não por ser letra do alfabeto, mas sim por ser uma incógnita, ou lá como é que se diz na distante matemática) e preparo-me para contar carneiros… pois dos carneiros passo para as ovelhas, e das ovelhas para as cabras, e das cabras para o resto do estábulo, e depois para a bicharada inteira… e nem que viessem 30 zoológicos inteiros, mais os tratadores, as meninas da bilheteira e as avozinhas com os netinhos e as 300 excursões que querem ver a aldeia dos macacos, me chegava o raio do sono!
Ora c’os diabos, hã? Logo para o que me havia de dar hoje…
Bem, como tudo, esta insónia mal disfarçada tem uma razão: é o resultado de algumas noites a seguir fiel e religiosamente tudo o que são séries criminais; porque os exames das balísticas, dos odores, das colorações, do “quem”, do “onde” e do “porque” dão tudo o seu trabalho e porque às vezes os malandros dos assassinos, dos violadores e da demais tropa “fandanga” não se deixam apanhar, e mais não sei quê. Já para não falar quando não se sabe quem morreu, porque o corpo ficou em tal estado (tadinho… morre tanta gente para se fazerem estas séries… txi… nem sei como é que ainda há voluntários para estas coisas…) que nem dá para identificar nada! Mas eles, espertos como são, e ajudados, claro está, por aquelas maquinetas todas “X-P-T-O”, lá conseguem saber quem foi a alminha sacrificada desta vez.
Entretanto, permaneço no mesmo sítio, tal e qual… eu cá ouço a noite, eu cá ouço o tic-tac do relógio digital, eu cá ouço tudo e mais alguma coisa… menos o sono a chegar a passo de cavalo. Estou bem tramado hoje… Eu bem olho, no meio da escuridão, para o que me é possível vislumbrar, mas a espertina é mais que muita (e a parvoeira também, como se tem comprovado aqui!).
Bem se calhar o que tenho a fazer é virar-me para o outro lado e começar a contar carneiradas outra vez. Ora cá vai disto: 1 carneiro, … … 179 carneiros, … … 3 644 carneiros, … … 1 650 348 carneiros, … …