segunda-feira, 13 de abril de 2009

Imagens

“Fiquei sem nada. Até fiquei sem os meus dentes”…

Aqui ando eu, na morada oficial, de roda das arrumações pós-férias. Mala daqui, mochila dali… dobra, envolve, guarda… enfim, nada de extraordinário e de paranormal na vida de um qualquer nómada dos tempos modernos.
No meu quarto, rodeado dos meus livros, das minhas coisas (mais ou menos importantes, mas no fundo, recordações), dos meus bocadinhos de pessoa que sou, verifico-me que os meus pensamentos estão completamente em piloto automático. Vagueiam, pesquisam, lembram, assomam… e mais uma vez, desde há alguns dias para cá, fixo-me e fixam-se naqueles rostos, naquelas expressões, naquelas emoções. Rostos de quem apenas ficou com a vida, expressões de pesar e de desamparo, emoções de quem precisa de força para ter esperança.
A esperança é a ultima a morrer, diz-se… mas onde se encontra a esperança quando se perdeu tudo? Aquela velhota, agarrada a uma qualquer autoridade ou socorrista, gritava desesperadamente e dizia: “Fiquei sem nada. Até fiquei sem os meus dentes”.
Debaixo daqueles telhados ficaram vidas. Debaixo daquelas paredes, recordações. No meio dos amontoados de entulho, a dor e o sofrimento estampados de quem, em segundos, ficou sem nada… sem um livro, sem uma fotografia, sem um par de sapatos, sem um filho, sem um irmão, sem um pai…
Onde se vai buscar a força para sobreviver? Onde se vai buscar a coragem para continuar?

No meio de uma cidade feita de ruínas e de rostos empoeirados feitos de pesar, uma velhinha gritava, porque havia ficado sem nada… e há imagens que não conseguimos esquecer…

1 comentário:

Momentos disse...

Ha com cada coisa caro colega,
acabei de escrever um post novo no meu blog e... pimba... fui ler o seu e não é que os nossos textos tem algo em comum?
Dias melhores virão, que Deus nos proteja a nós e que cuide dos outro que ficaram sem dentes...
saudações
"momentos"