segunda-feira, 10 de novembro de 2008

...Évora...

Percorro-te…
Sigo-te confortavelmente, palmilho-te e descubro-te… Convivo com as tuas nuances, com as tuas diferenças, com a tua dualidade claro-escuro de aguarela viva… as tuas pinceladas são de quadro impressionista, as tuas cores de obra naif.
Revelas-te dia após dia, e eu desfloro-te, na esperança de me deparar com aquilo que ainda não me deparei.
Olho-te!!! Não te vejo, como tantos e tantos. Olho-te e tu olhas-me. Mas eu sou mais um que passa por ti, quotidiana e rotineiramente. Mas tu para mim és o berço que me acolheu, és o espaço que teluricamente me tem visto crescer. Quando me verás partir? Deixarei saudade? Acredito que não… porque eu sou mais um que passa por ti, quotidiana e rotineiramente.
Sei-te de cor, como diz uma certa musica já muito badalada nas rádios dos automóveis. Ou talvez não… consegues-me sempre surpreender, revelar um pouco mais de ti, um pouco do que tens escondido e que revelas, acredito eu, apenas a alguns, aos mais atentos, aos mais apaixonados, aos mais interessados. Tens sempre algo de novo, de misterioso, de fantástico. Um espaço, uma cor, uma janela… Tens a capacidade de te renovar, de te expor delicadamente, de modo paulatino e sensível.
Adoro-te tanto quanto te odeio. Tens tanto de acolhedor como de repulsivo. Já me viste das formas que qualquer um me pode ver… ou talvez até mais. Talvez saibas que naquela pessoa há algo mais do que visivelmente transparece, porque há coisas que só confidenciamos às pedras da calçada. E tu sabes disso…
És fotografada vezes sem conta. Mas já alguém terá conseguido retratar-te a alma? A Évora escondida, absorta, a Évora que não vem nos mapas turísticos nem é visitada pelas moles de visitantes que te gastam e te consomem.
Eu sou mais um que passa por ti, quotidiana e rotineiramente. Será? Será que nunca reparaste em mim? Decerto que não. Para ti são mais dois pés que, em passada larga, te percorrem, te palmilham e que, por vezes, te descobrem.
Qualquer dia fotografo-te... mas não te tiro uma daquelas fotografias globalizantemente turísticas… Qualquer dia tiro-te uma fotografia à alma!! Uma fotografia diferente de qualquer outra, única, irrepetível. Uma fotografia que fará parte do meu álbum, do meu álbum de memórias, do meu bloco de apontamentos que não mostro a ninguém, porque é só meu, onde só entram emoções e que não é passível de ser transcrito em palavras, verbos e adjectivos. Um álbum que só eu sei onde se encontra, um álbum onde tu estás, e sempre estarás!!
Eu sou mais um que passa por ti, quotidiana e rotineiramente. Mas tu para mim és a cidade que me acolheu quando a minha alma precisava de uma nova morada e de um novo espaço. Esse lugar e esse espaço és tu, e eu não me vou esquecer de tamanha hospitalidade…

2 comentários:

Aline disse...

Bem...Sr. Carlos André começou bem o seu blog se quer que lhe diga ;) Sabes da palavra que gostei mais? "mole" loooool fez-me lembrar o nosso trabalhinho de teoria lolol Vá eu quero continuar a ver aqui a sua veia poética. Queres tirar uma foto á alma de Évora? É a tua alma que vais desvendar neste blog :p

bjinhs****

Pantaleão disse...

Todos deixam saudades, de uma maneira ou de outra isso acontece. É egoísta mas ao mesmo tempo faz parte de nós querermos que nos sintam a falta, é isso que faz de nós os imperfeitos humanos. São esses defeitos que nos dão alma e que aquecem os espíritos daqueles que nos rodeiam.

Alguns sentirão saudades de uma cidade em que a sua alma são aqueles que lhe dão vida. Tu foste e és um daqueles que deu e dá alma a esta cidade, é óbvio que te sentirão a falta...