sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

de guarda-chuva aberto...

Anoiteceu…
O céu, de um negro nocturno, era pontuado por clarões amarelos, intensos, provenientes da iluminação urbana.
Naquelas ruas vazias e desertificadas, deambulava eu, sem grande pressa de chegar a casa.
O som melancolicamente alegre, provocado pelo gotejar dos telhados, fazia companhia ao passo cadenciado.
Aqui e além, ao fundo, no meio da escuridão, uma pessoa fugitiva, de chapéu-de-chuva erguido, encaminhava-se quotidiana e rapidamente para casa. E eu, vagaroso, mantinha o meu passo cadenciado.
De vez em quando, um grosso, grande e frio pingo de chuva despertava-me dos meus mais profundos pensamentos, para os quais regressava de imediato, passada a inicial fase de desconforto.
O “sonhante” há muito que havia ido, desaparecendo no meio do aguaceiro. Mas eu continuava a deambular pelas ruas vazias e desertificadas.
A determinada altura, vi a porta verde de barras azuis da Madre de Deus. Há muito que aqui não passava, porque também havia perdido o motivo para aqui passar.
De repente, mais um aguaceiro… e o meu passo abrandou… porque, na verdade, gosto de andar à chuva. Não sei bem explicar. É um misto de conforto e fragilidade, de protecção e de pequenez, que me faz sentir livre e desprendido.
As mãos, húmidas, denunciam um furo na armadura invernal. Mesmo assim, insististe em apertá-las, na despedida, prova de que a amizade é a aceitação completa do outro, esteja ele como estiver, seja ele como for.

No meio da cidade, de guarda-chuva aberto, eu deambulava, sem grande pressa de chegar a casa…

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